sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

As crônicas da volta por cima

Às vezes a vida nos lança uma bola nas costas, nos obriga a andar em círculos. Mas saber lidar com o fracasso pode ser o primeiro passo rumo ao sucesso.
Por Joe Kita
Quando a escritora J. K. Rowling falou em Harvard à turma que se formava em junho de 2008, ela não tratou de sucessos. Em vez disso, falou de fracassos. Contou a história de uma moça que abandonou o sonho de escrever romances para estudar algo mais prático. Ainda assim, acabou como mãe solteira desempregada, “o mais pobre que é possível ser na Grã-Bretanha moderna sem virar sem-teto”. Mas, durante o pior período, percebeu que ainda tinha uma filha maravilhosa, uma velha máquina de escrever e uma ideia que se tornaria a base para reconstruir sua vida. Você já ouviu falar em Harry Potter, não?“Talvez vocês nunca fracassem como fracassei”, disse Rowling àquela plateia privilegiada. “Mas é impossível viver sem fracassar em algo, a menos que se viva com tanta cautela a ponto de nem sequer viver de verdade e, aí, o fracasso é óbvio. Você nunca se conhecerá de verdade, nem saberá a força dos relacionamentos até que sejam postos à prova pela adversidade. Esse conhecimento é um verdadeiro dom, pois é conquistado com a dor, e para mim vale mais do que os títulos que já recebi.”Nos dias de hoje, muitas pessoas têm experimentado o fracasso pela primeira vez. Seja pela dificuldade de comprar a casa própria, pelo desemprego ou pelo sumiço das economias duramente acumuladas, de repente a geração que tinha tudo não tem mais nada. Mas, na amargura que acompanha a adversidade, há lições que vale a pena saborear; e, se olharmos com atenção, há também doces oportunidades.A seguir, você verá como o cérebro reage ao fracasso e como alguns truques simples podem reprogramá-lo para o sucesso. Também encontrará conselhos de um empresário bem-sucedido, que afirma que, na verdade, épocas como esta são as melhores para pôr os sonhos em prática. O mais importante: você vai conhecer pessoas comuns que passaram por situações difíceis. Algumas fizeram bobagens; outras foram “apunhaladas pelas costas”. Mas mesmo que as histórias sejam diferentes, o resultado é sempre o mesmo: todas deram a volta por cima.E para fazer isso, como diria a própria Rowling, nem é preciso ser bruxo.“Não consegui ser a esposa perfeita, na casa perfeita, mas superei dificuldades e segui em frente.” Randi Ketchum, 36 anos, Huron, OhioFoi uma das ocasiões mais felizes da minha vida: tinha 29 anos e acabava de me formar, apesar de ter dois empregos, ser esposa e mãe. Meus pais e meu filho de 5 anos estavam na plateia quando subi ao palco da Universidade Ashland para receber o diploma. Estava empolgadíssima e orgulhosa por iniciar uma nova carreira de professora e contribuir com o bem-estar da minha família.Mas, quando voltei para casa, havia um bilhete do meu marido, escrito nas costas de um envelope. Dizia, basicamente, que ele fora buscar as roupas e que não voltaria. Vínhamos enfrentando problemas, mas o tom definitivo do bilhete foi um choque. Ele limpara a conta bancária. Estávamos endividadíssimos. Eu deixara os empregos anteriores para procurar trabalho como professora. Além disso, estava grávida de oito meses.A maioria das moças tem uma imagem idealizada do casamento. Mas ninguém senta ao nosso lado para dizer que a realidade não é assim, que às vezes a vida é simplesmente horrível. Para mim, tudo desmoronou naquela noite. Estava envergonhada, assustada e zangada, achando que fracassara.Mas tinha o meu filho e estava prestes a trazer ao mundo uma nova vida, e, apesar da minha tristeza, tinha de seguir em frente. Na manhã seguinte, acordei (em termos literais e figurativos), pus os pés no chão, preparei o café da manhã e, basicamente, fiz tudo o que sempre fazia. Usei a rotina para me manter ocupada. Depois de passar seis anos nas forças armadas, acho que posso dizer que me senti de volta à instrução, como todos os bons soldados em situações difíceis. Um pequeno passo depois do outro, foi assim que me recuperei.E nos sete anos que se passaram desde então, continuei avançando. Consegui emprego como professora do maternal, fiz mestrado em Educação e vi meus filhos chegarem aos 12 e aos 7 anos. É claro que preferia que nunca tivessem de passar por aquilo, mas quando olho para trás fico contente pelo que aconteceu naquela época. A dificuldade me ajudou a me encontrar, a encontrar a minha voz muito mais cedo. Ela me ajudou a ficar independente, confiante e forte, coisas que espero ter ensinado aos meus filhos.“Fracassei em tudo quando era jovem, mas acabei de vender minha empresa por 75 milhões de dólares...” Bob Williamson, 62, sul da FlóridaEm 1970, quando eu tinha 24 anos, fui de carona para Atlanta, nos Estados Unidos, e, ironicamente, acabei na Luckie Street, a rua da Sorte. Na época, eu não tinha sorte alguma. Era viciado em drogas e procurado pela polícia. Tudo o que possuía cabia dentro de uma fronha. Decidira que ia me endireitar, senão me suicidaria. Vendi meio litro de sangue por 7 dólares e arranjei um quarto para passar a noite na Associação Cristã de Moços, naquela rua. No dia seguinte, consegui um emprego limpando tijolos, depois me mudei para uma pensão e, aos poucos, comecei meu caminho de volta.Mas a sorte ainda não estava do meu lado. Bati de frente ao dirigir um carro emprestado e fiquei tão machucado que passei três meses no hospital. Lá, decidi ler a Bíblia. Comecei como forma de espantar o tédio, e achei mesmo que não ia gostar. Mas li o Novo Testamento, depois o Antigo, depois o Novo outra vez, li cada palavra. Naquele momento, comecei a sentir um empurrão leve e constante de encorajamento. Apesar de não servir de exemplo para ninguém, me senti perdoado e amado.Pouco depois de sair do hospital, conheci uma moça maravilhosa, com quem me casei seis meses depois. Ela era a perfeita moça de família, ao contrário de mim, como podem imaginar, mas estamos casados há 38 anos e temos uma família grande e unida. Consegui me tornar uma pessoa importante na comunidade, um empresário de sucesso. Na verdade, acabei de vender minha empresa de software, o nono negócio que abri, por 75 milhões de dólares.Não acredito em coincidência nem em sorte. Acredito em Deus. E a lição que aprendi com tudo isso foi que Deus parece mostrar sua força e seu poder por meio da fraqueza. Acho que Ele escolhe os que estão na pior situação para mostrar o que é possível. Mas nem sempre dá para marcar o momento em que isso acontece. Ele não nos abençoa simplesmente e nos en­che de milhões. Em vez disso, Deus nos mostra o caminho e oferece as oportunidades. Cabe a nós determinar as metas, imaginar a estratégia e, o mais importante, pôr as mãos à obra. É assim que se chega à “rua da sorte”.

* Gostei muito dessa reportagem da Revista seleções desse mês, ela não está completa , só tem uma parte.

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